Vamos exercitar a escutatória?!
Rubem Alves no seu ensaio “Escutatória” chama a atenção para o fato de que, no ocidente, existem muitos cursos e apelos à boa oratória, e nada com relação à escuta.
“Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir. Escutar é complicado e sutil…a gente não aguenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor, sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer…’’
Como você sabe, a coesão da equipe é um elemento essencial para o bom funcionamento de uma empresa. As soft skills são cada vez mais valorizadas e já não se trata apenas de competências técnicas a dominar pelos colaboradores. Assim, a escuta é ainda mais essencial a ser dominada pelo gestor de hoje para permitir que os funcionários floresçam e, dessa forma, que a empresa prospere.
Um saber que se aprende
A escutatória é uma habilidade comportamental que se aprende como você aprenderia matemática na escola! É preciso saber escutar sem se deixar dominar ou cair na indiferença, o equilíbrio certo para garantir uma boa comunicação dentro das equipes.
No curso de escutatória e padrões de linguagem, dou as chaves para praticar esse equilíbrio. Alternamos a teoria, com a explicação das diferentes ferramentas, e a prática com encenações, role plays baseados nas situações reais dos participantes, no dia a dia da empresa, nos desafios a vir a todos os níveis da organização.
Essa escuta requer por exemplo perceber os sentimentos e ideias de seus interlocutores sem fazer julgamentos, investigar a riqueza de uma troca a partir de um feedback, exercitando a atenção plena quando o outro fala, conjugar na sua comunicação direcionamento com empatia, firmeza com abertura, acolhimento e posicionamento.
Também é saber usar o silêncio a seu favor. Não é à toa que o Rubem Alves dizia: ”A música acontece no silêncio.”
Nas organizações e grupos, a arte de escutar é fundamental e deveria ser aprendida e praticada por todos. É necessária para captar e processar informações, encontrar soluções, para estimular pessoas e grupos a conviverem e criarem juntos e para lidarem criativamente com situações de conflito.
A arte de escutar na gestão colaborativa/participativa vai além do ouvir; inclui o olhar, a observação atenta, o sentir o corpo, sensações e sentimentos, a reflexão e, conforme o caso, a elaboração de perguntas provocadoras e a verificação da pertinência.
Requer atitude de entrega, atenção e não julgamento, bem como reconhecer quando é necessário dar limites à escuta. Essa arte se processa em várias dimensões: de si, do outro, do grupo e/ou do contexto (interno e externo a organização).
Por que na nossa história demos mais importância a oratória em vez da escutatória?
A cultura ocidental é sustentada por uma racionalidade que estimula o falar, mas não o escutar. Trata-se de uma perspectiva voltada para o poder de uns sobre outros através da linguagem crítica e do discurso, que não valoriza o diálogo nem a escuta. Podemos reconhecer aqui o predomínio do padrão patriarcal em nossa civilização e do lado ativo da consciência humana, pois a escuta requer um certo grau de introspecção e de abertura para receber e dialogar, e até um silenciamento momentâneo do ego.
Como ato social e dialógico, a escuta requer uma abertura para reconhecer que o outro é a fonte possível de uma percepção diferenciada e tem algo a contribuir (no processo de aprendizagem, na gestão das organizações, nas políticas públicas etc.).
Quais são os benefícios de implantar a escutatória na sua empresa?
A habilidade da escuta, treinada em grupos, em um ambiente corporativo e colaborativo, cria campos fecundos para ativar e sustentar a inteligência coletiva.
A escuta abre caminhos para reconhecermos os conflitos como oportunidades de aprendizagem nas organizações, indivíduos e sociedades.
A escuta prepara os gestores, educadores, profissionais e pessoas em geral para lidarem com o caos e a adversidade, favorecendo o trabalho voltado para a criatividade e a inovação.